E porque eu gosto de variar... Dou-vos a conhecer um pouco da minha infantilidade e humor através da escrita. Uma pequena história feita por mim, com a ajuda de uma amiga minha (http://c_athy.blogs.sapo.pt), durante uma aula de português, há já algum tempo. Tinha acabado de ler o livro O Perfume, por isso tem algumas parecências a nível das descrições. Hope you enjoy it!
OVERDOSE
O Scary Movie dos tempos antigos…
Esta história não é comum. Caro leitor, esta história é tudo menos comum.
Situemo-nos no tempo: corre o ano de 1519. Algures numa cidade esquecida no tempo na lúgubre e sinistra Pensilvânia ocorrem macabros assassínios que fazem os amargurados habitantes refugiarem-se no fétido interior das suas pobres habitações. Só um ou outro vagabundo excomungado se atreve a aventurar-se na sombria noite, senhora dos pesadelos, que engole as ruas com o seu manto frio e tenebroso, incutindo no ar um sentimento de morte. O cheiro a excrementos, cebola frita e suor humano pairam no ar, envolvendo as ruas numa neblina de um fedor insuportável, característico das cidades neste século.
Um movimento sub-reptício alerta um gato vadio que por ali deambula. De repente, emergindo das sombras de um beco nauseabundo, um grito desesperado e de profundo horror irrompe no ar, ao mesmo tempo que um arrepio súbito invade a população. Todos se refugiam nos seus quartos, onde nem o pesado cheiro a fezes e a mofo os repelem para o exterior. Não até irromperem os primeiros raios de sol.
Manhã límpida, envolta numa eterna fina camada de nevoeiro.
A cidade fervilha com a habitual actividade diurna, até tudo estacar quando um rapazinho repara num vulto imerso nas sombras. Junta-se ali um aglomerado, deparando-se com uma forma de um corpo humano inerte e solitário. O cadáver de uma bela jovem jaz na pedra fria, perdida na sua morte prematura e injusta, o seu corpo belo e resplandecente violado por uma feroz dentada no delicado pescoço, de onde brotara, durante a noite, um fio de sangue que contrasta com a palidez leitosa da sua pele. Todos os habitantes, tomados de um misto de sentimentos de raiva e abandono, gritam em uníssono:
- NÃOOOOOOOOOOO! Maldito sejas, Lúcifer!
- L-L-Levaram a pura e s-s-singela filha do nosso honrado p-p-pastor… – soluça uma mulher idosa, deixando-se cair na húmida e imunda pedra da calçada.
Os habitantes buscam então uma solução para aquele que é apenas mais um dos vários assassínios impiedosos e cruéis, que fustigam a cidade pecaminosa. Decidem então sacrificar uma, aparentemente, doce donzela, filha de uma meretriz, para atrair aquele demónio ceifador de vidas, vil, vindo das profundezas do inferno. A mãe acede, primeiro relutante, depois conformada, quanto ao sacrifício da sua filha, já que não lhe convém negar favores à comunidade, donde provêm os seus clientes.
Noite. Os passos apressados da pequena aprendiz de rameira ecoam nas ruas desertas e envoltas
- Deus me salve! Mas que ser horripilante sois vós, seu monstro!
- Vossa senhoria ofende a minha graça! – revolta-se o vampírico ser. Depois, assumindo um ar pomposo discursa, – fique sabendo, madame, aqui o ilustre Lorde Encefálico Picatxu Camisa, descendente de várias gerações vampíricas, cujo nobilíssimo fundador desta linhagem pura e malévola (o meu profundamente amado Conde Drácula) tinha como nobre objectivo corromper a morada térrea de jovens donzelas que se aventuravam na escura noite do pecado carnal, libertá-la-ei dessa sua misérrima prisão que a impede de alcançar a Visão. Então pois, minha estimada senhorita, irei de seguida prestar-lhe o maior favor da sua insípida e insignificante vida.
A rameirinha recua assustada, com uma expressão de pavor estampada no seu harmonioso rosto, enquanto que o vampiro continua o seu discurso.
- Bem, decorridas as formalidades, passemos ao que interessa. Como estou prestes a retirar-lhe a chama da vida, parece-me de bom tom que me trate de uma maneira mais pessoal. Como os amigos me chamam, por favor, Camisinha de Mercúrio a seu dispor!
A rapariga, retomando o seu sangue-frio e munindo-se de coragem excepcional, aplica-lhe um surpreendente golpe de karaté, acertando no maxilar borbulhento da criatura das trevas.
- O golpe da avestruz!
- QUE DEGREDO! Credo, cruzes invertidas canhoto! Como se atreve, grosseira dama, a violar a integridade física de um cavalheiro tão eloquente?! Aberração, aborto, abominação!
- Ou se afasta ou lhe aplico o golpe do tigre azul! – a rapariga efectua um complicado malabarismo com as mãos.
- Ahahah! – ri-se o Lorde, de maneira pomposa e aristocrática. – Que formosura, que encanto! Deixe à vista mas é o pescocinho, para eu dar uma dentadinha! Diga-me, tomou banho? Gosto dum bom pescoço luzidio!
Sabrina tira o crucifixo de prata que traz ao pescoço e grita desesperada:
- Vai-te Satanás pelo recto!
- Prata de segunda mão?! Minha estimada portadora de glóbulos vermelhos, cruzes de pecadores não me afectam! Roubou isso do bordel de sua santa mãe?
A jovem, apavorada, deixa tombar o crucifixo que cai no chão de pedra com estrépito. O vampiresco ser aproxima-se, com a sua juba desgrenhada a esvoaçar e o seu sorriso guloso a deixar intervir um dente de ouro que reluz ao luar. As suas garras fincam-se nos braços de Sabrina e, sem hesitar, enterra os seus longos caninos demoníacos no pescoço nu da pequena meretriz.
Os olhos da rapariga vão-se esvaindo de qualquer vida com o decorrer dos segundos, enquanto o vampiro suga todo o seu sangue, lentamente, extasiando-se com o prazer que lhe confere.
Subitamente, Lorde Camisa larga a sua vítima, atirando o seu corpo flácido e sem vida para a escuridão da rua, enquanto dá soluços aparatosos e convulsões o atingem. O aristocrático vampiro solta um último suspiro efeminado e deixa-se cair no lamacento solo, um suave halo de pó a cercar o seu corpo inerte e os seus olhos vítreos. Derrotado, por fim. Não pelos golpes de karaté da sua última presa, mas por uma overdose de sangue. Vindos de recantos escuros e escondidos, caem sobre o falecido demónio todos os habitantes das redondezas, batendo-lhe violentamente com os punhos, paus e ferros em brasa.
Termina assim, pois, a onda temível dos assassinatos numa cidade remota em território da Pensilvânia.
Esta foi a história de Lorde Encefálico Picatxu Camisa, “paz” à sua “alma”.
Bem, ridículo, eu sei, mas proporcionou umas boas gargalhadas entre as minhas amigas. Fizemos uma dramatização, Cátia personificando o vampiro amaricado e eu a jovem Sabrina. Ana, Ayeska e Sara, a população. E é assim que nos divertimos
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